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São Franscisco

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Roça do Sr. Nenzin

sábado, 16 de julho de 2011

O último dia que estivemos juntos

Ainda lembro daquele dia, parecia domingo. Calmo, quase sem motivo para ligar qualquer aparelho eletrônico.
Eu os encontrei naquela manhã como se nunca os tivesse visto antes. Era tudo novo, as mudanças eram acentuadas... Eu me sentia velho e igual, mas o que valia a pena é que todos minavam felicidade. Tive até medo de dizer que pensava diferente e que aquela união de antes, o que restava, era saudade.
Contive as palavras. Choro, não havia motivo. Já houve dias que desconfiei das minhas lágrimas. Agora que sou árvore sem raízes, ou melhor, raízes sem terra, tenho me movido como trepadeira, às vezes belo na superfície mas as raízes sabe-se lá o que podem fazer.
Ali por perto não havia o hábito de precisar de nada, então aquela manhã era suave e para quem não tinha costume não tinha sentido. Todos falavam das amizades, o que o mundo tinha proporcionado, como a vida tinha melhorado. Não havia nada ruim, a leitura deles só tinha o belo. Lembrei de como era aquele tempo sem desconfiança.

Não poderia ter sido melhor, aquele cheiro que foi chegando devagar me deixou confuso, lembrei de esperança, cheiro de horta, talvez um pouco menos intenso. As correntes de ar no início eram quentes abafadas e depois um pouco mais frias, mas ainda úmidas. Naveguei nas histórias de alguns pássaros que meu pai me contava, fogo pago, rasga mortalha, akauan, curiango, mixiriqueira e tantos outros que já esqueci. Depois da brisa que soprava havia muito mais por vir.
E quando as gotas tocaram o telhado eu finalmente entendi o que os alimentava.

Pensava o quanto tinha arrancado do meu espirito para ser o que sou.
Senti que não me desligará completamente daquele universo, queria ser como aquela chuva ou como aqueles pássaros cheios de magia. Mas não tardou para recuperar o pedacinho da minha família, e logo pensei quantos quinhões que daria para que fosse o último dia que estivemos juntos.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Hoje Carlinhos morreu!

Durante seis anos fui chamado de MEU, embora na Bahia por muitos anos ainda meus amigos gostam de chamar assim.

Já era próximo das 8h da manhã quando ouvir meu celular tocar, ainda estava em casa, então atendi.

AMIGO -- MEU!
Respondi:
EU -- E aí MEU!
-- Esta tudo bem?
-- Tudo beleza, como sempre respondo, independente das pendências da vida.
-- Tu não sabes!
-- O que?
-- Carlinhos morreu?
-- Que dia?
-- Há 4 meses atrás, acredita?
-- Quem te contou?
-- Aquele cara lá do prédio, um magro, do cabelão, que o pessoal tinha dado um apelido para ele.
-- Ah! Valderrama!
-- Infarto fulminante, também fumava demais...
-- É verdade! Um cara tão ativo mas era meio extravagante, exagerado.
-- Rapaz que coisa estranha uma pessoa que conheciamos morre e nós demoramos 4 meses para descobrir...
-- Bora marcar alguma coisa este final de semana...
-- Vamos sim, preciso vê-los!

Eu tinha compreendido este amigo, sabia exatamente o que tinha atrás daquela notícia. Era mais que a morte de Carlinhos que estava nas nossas lembranças. Este amigo é um sujeito esplêndido, sabe ou tem o dom das palavras a arte de convencer através da fala, mensagens em exemplos e é mais animado que podemos imaginar. Muitas características de inteligência e vontade de viver numa única pessoa.
E por conhecê-los que queria marcar alguma coisa, pois assim como Carlinhos a nossa amizade não podia ficar em segundo plano em relação a trabalho ou qualquer outra coisa. E assim que entendi que o tempo passava, pensei:Preciso rever aquelas pessoas especiais!

"O desafio é a nossa imobilidade social"

Não deixe a bicicleta na garagem, eu sei que a maioria já faz academia ou algum esporte, mas existem outras questões em jogo. As nossas cidades precisam de mais energia humana.

Depois de 4 meses andando de bicicleta estimo ter percorrido aproximadamente 1000Km, que não é dificil de alcançar quando pedalamos 20Km para ir e voltar do trabalho e devo lembrar que o trecho que tenho percorrido não é favorável por vários aspectos, entre eles posso citar:

- Duas ladeiras íngremes, já percorri trechos alternativos para pelo menos suavizar a subida.

- Apenas a primeira metade do trecho tem ciclovia, a segunda metade além de não ter a ciclovia tem aquelas ladeiras que citei no item anterior.

Já tive alguns benefícios claros por andar de bicicleta. O primeiro foi ganhar a confiança dos conhecidos por mostrar que é possível modificar a cidade, basta atitude. Não dá pra ficar parado esperando que prefeitos e vereadores que nunca andaram numa ciclovia pensem nestes assuntos. A maioria não compra nem seu alimento da manhã sem carro, ainda que a padaria seja no mesmo quarteirão.Também ganhei resistência física depois dos primeiros 500Km, o que fez das ladeiras uma brincadeira.
Mas vamos deixar esta minha vaidade e também afirmmação masculina ao apresentar estes números acima, para falar de gente de verdade.

Há duas semanas atrás estive em Lauro de Freitas, e num trecho de aproximadamente 5Km contei todos os dias em um lado da pista de 48 a 53 bicicletas, entre 6h e 7h da manhã enquanto passava de onibus. É possível que neste horário circulem mais ou menos 100 bicicletas dos dois lados. Se todas estas pessoas estivessem de carro de 4m de comprimento eles ocupariam 400m desta pista, ou seja 4% de toda pista foram suavizados. Certamente estas pessoas não fizeram a escolha da bicicleta apenas por que queriam melhorar as condições do meio que circulavam, entretanto a pressão econômica sobre eles parece tê-los tornado diante desta mudanças de perspectiva social quase que homens a frente de seu tempo. Entretanto não serão reconhecidos como tais. Ainda serão homens pobres que o fazem por falta de dinheiro, para economizar o que gastariam com o nosso sistema urbano precário.

Certa vez, um vereador suplente iniciou um conjunto de bicicletadas na cidade baixa, ele estava atento sobre a inserção da bicicleta como meio de transporte e instrumento de trabalho, já que muitos usavam a bicicleta como célula móvel do seu próprio serviço ou negócio. O que a classe média parece querer são estas alternativas a beira mar, algo para o lazer. Mas o que muitos nestas cidades metropolitanas precisam é o direito básico de ir e vir com o próprio suor do corpo. Direito de trabalhar e não parecer que é vagabundo por esta disputando espaço com estes enormes utilitários. O que eles precisam é muito pouco, RESPIRAR!

Entre os argumentos mais tristes que tenho ouvido é que a cidade de Salvador não é favoravel para o uso da bicicleta pois apresenta muitas declividades. Então eu lhes pergunto:

É melhor andar lentamente subindo uma ladeira ou ficar parado no transito mais de 40min?

Existe mais de uma pergunta para estas questões práticas do transporte, mas além dessa do paragrafo anterior tenho mais uma de meu interesse:

Quanto economizaríamos em saúde pública se investissemos em ciclovias ou até em outras alternativas que possamos criar?

Outros setores da socidade gostariam que continuassemos no nosso atual estilo de vida, fazendo mal uso da nossa energia. E ao contrário do slogan de uma propaganda que assistimos todos os dias, "O desafio é a nossa energia" acredito que melhor ficaria como "O desafio é a nossa imobilidade social".