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São Franscisco

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Roça do Sr. Nenzin

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Carta primeira

Salvador, 17 de fevereiro de 2010

Embora as cartas estejam em desuso no mundo das pessoas que sempre querem saber para quê? Eu ainda muito novo tinha me encantado e dado o seu devido valor.
Ainda que pareçam bregas as palavras que seguem este escrito posso justificar pela minha adolescência em gastei todos os meus versos, prosas e desenhos.
Lembrei desta primeira paixão quando estive na formatura de um amigo e encontrei por lá a pessoa para a qual seria endereçada a minha primeira carta.

Para a linda C...
Brumado, 1 de abril 1997

Hoje ....
....
versos
....


Fico sempre arrependido quando vejo aquela mulher, e não por ela, mas sim pela carta que não enviei.
Lá tinham os meus primeiros versos, os mais doces, e os sonhos mais puros. E a vontade simples
de não enfraquecer diante daquela que viria a ser a primeira namorada.
A carta naturalmente no seu interlúdio que torna qualquer outra pausa entre duas pessoas
dispensável me transformou mesmo sem completar o eu ciclo. Tudo que eu precisava estava em mim, paixão, tristeza por não saber o que melhor escrever e por fim o medo
de perder a vontade de viver neste mundo de ilusões. Estava eu, debruçado sobre Vinicius de Moraes e Alvarez de Azevedo querendo conhecer suas obras e cada dia que passava estava mais distante de quem motivará naquela investida. Os livros não perdiam seu charme por estarem em estantes de metal e tão pouco pelas bibliotecárias que mau sabiam de sua existência. Aquele ambiente estava decadente, mas aquilo que estava sendo lido vivia em algumas pessoas. Parecia uma paixão pelas calçadas daquela linda menina que aos poucos foi perdendo lugar para um narcisismo e uma eloquência enrigecedora. Estava agora obsecado por personagens e só me dei conta daquele pensamento quando tive a oportunidade de entregar aquela carta e não o fiz. Não tive vontade de trair as mulheres
perfeitas das "Liras dos Vinte Anos" muito menos a Tereza, Tatiana e a Lua de Vínicius.
Esta carta não posso mais entregá-la, mas não exitei de entregar para uma mulher em especial as minhas melhores cartas.
Lembro claramente quando namorei uma menina de Vitória da Conquista, apenas pelas
cartas. Tivemos alguns dias juntos e quase um ano de cartas inesquecíveis. Mas o dia mais curioso foi um reencontro. Viajei 500 km para viver algo muito incomum totalmente sm espaço e tempo. Numa praça, as 17:00h no inverno de uma das cidades mais frias da Bahia, e a lua já disputava seu espaço para presenciar aquele momento. Ficamos alguns minutos parados e nos abraçamos, beijamos mas a voz não saia...Era uma espécie de pacto, "apenas as cartas falam" então trocamos cartas de despedida pessoalmente e as palavras escritas eram o suficiente. Cada um em uma direção e o adeus já estava escrito. Deste último dia não escrevi mais nehuma carta e a beleza que tinha em mim gastei nas linhas finais que pode escrever com a doce ajuda do velho amigo Vinicius. Somente um ano depois com pena de ler aquela última carta conheci este poema que ela me enviou
e me alertava sobre a minha carta não enviada sem que eu tivesse algum dia comentado sobre a sua existência.

Para R.
Vitória da Conquista, 13 de agosto 2002

Olá! Como será difícil tecer esta carta....como você esta lendo
esta carta não nos falamos...
...
...

Os amantes das cartas sabem que uma carta não pode deixar de ser enviada,
embora você tenha me ensinado quase tudo sobre Vinicius existe um poema
dele que você ainda não conhece ou prefere evitá-lo. Então permito que você
se reencontre ....
....
...

Beijos!

I. P.



A carta que não foi mandada

Paris, outono de 73
Estou no nosso bar mais uma vez
E escrevo pra dizer
Que é a mesma taça e a mesma luz
Brilhando no champanhe em vários tons azuis
No espelho em frente eu sou mais um freguês
Um homem que já foi feliz, talvez
E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor
Saudades, certamente, de algum grande amor

Mas ao vê-lo assim tão triste e só
Sou eu que estou chorando
Lágrimas iguais
E, a vida é assim, o tempo passa
E fica relembrando
Canções do amor demais
Sim, será mais um, mais um qualquer
Que vem de vez em quando
E olha para trás
É, existe sempre uma mulher
Pra se ficar pensando
Nem sei... nem lembro mais

em Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"


Adeus!

Ass. R

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