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São Franscisco

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Roça do Sr. Nenzin

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Hoje me dei conta que se passaram três anos ...

Alguns homens são lembrados todos os dias, é o caso do meu pai. Frequentemente tento respeitá-lo, muito embora boa parte desse meu comportamento seja natural. É dele que consigo desenvolver o altruísmo, que de certa maneira era sua principal qualidade. Sou pouco criativo quando penso em homenagens. Mas se pudesse  eu convidaria um grupo de Reis para tocar para o meu pai. Colocaria uma mesa farta com requeijão, queijo, café, mandioca com carne e  cachaça. Então seria feliz ao lembrar daquele dia em o que sorriso dele era o mesmo de quando um menino de 8 anos,  nascido e criado na seca recebia o grupo de Reis. Em dia de Reis, dizia ele, que a ansiedade era tamanha que ninguém dormia esperando. Era triângulo, era tambor e outros instrumentos com nomes complicados que nem me lembro mais. É noite de Terno de Reis, tinha até fita cassete para ouvir  no caminhão durante o janeiro inteiro. Que arte esta do tempo que nos ausentou este homem no seu mês preferido? O que mais deveras sente? Tenho agora os resquícios dessa cultura que deveria ser passada de pai para filho numa lembrança vaga de um 8 de janeiro. Ainda lembro os "reizeiros" rodando o terreiro da casa da minha vó.
Às vezes não damos muita importância para as músicas que as pessoas próximas costumam cantarolar, mas a vida é um tiro certo e estas músicas soam no momento próprio.
Por isso, peço licença para minha querida mãe e repito sua música preferida para definir meus sentimentos:

É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido
Em pensamentos
Sobre o meu cavalo
...
Me disseram, porém
Que eu viesse aqui
Prá pedir de
Romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar
Meu olhar
...
 (Romaria, Elis Regina).

- A benção meu pai?
- Deus que te abençoei! Respondia ele.
- Então eu caminhava em direção à casa da minha mãe e retornava e conversava mais um pouco parado na porta da casa dele. E aquilo se repetia algumas vezes até que ele dizia:
- Vai para casa moleque besta que eu quero dormir! E muitos risos!
- Pela manhã quando passava lá,  eu e meu irmão  já chegávamos assoviando da mesma forma que ele para que nos reconhecesse. Ele sempre falava:
- Vem tomar café! Eu sempre aceitava para não fazer desfeita. Raramente eu rejeitava um pedido dele, era uma admiração sem fim. Hoje percebo que transferi este comportamento para todas pessoas que gosto. Mesmo que eu demore um tempo para atendê-las, quase sempre consigo fazer o que me pedem.

"Desaventos" ou até algo um pouco mais forte como diz Chico Buarque, "Desalentos" não expressam o que eu sinto, posso até dizer que minha vida é alegre mesmo sem o meu pai, mas é muito menos bonita sem ele.

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